
proposta: calcorrear solo criativo
desafio: apreciar a lavra incandescente
Lavra Incandescente é parte de um imenso processo criativo, que decorre entre leituras, ritmos, geo.grafias, rostos e tempo… tempo para questionar, tempo para dedicar à observação e compreensão da sensibilidade que ferve a Terra.
geo.grafia

leituras
Chão do povo chão de pedra!
O sol ferve-te o sol no sangue
E ferve-me o sangue no peito
Como o fogo e a pedra no vulcão do Fogo
Corsino Fortes, Tchon de pove tchon de pedra

impressões incandescentes, sobre (o) chão de pedra
ritmos
da terra recém-nascida brota uma atração, estranha
o povo aguerrido, vigia o tempo incandescente, reclama o chão
o sangue dita a urgência de voltar à lav(r)a afoita

a pedra desarrumada é a morada que ferve no peito
a paisagem circular, revestida de um áspero negrume,
é lar, funco, matéria de habitar, talhada a sol e Fogo

a céu-aberto, com os pés fincados no vulcão
o povo, na sua magistral existência,
aprecia e celebra a eloquência de cada instante,
que decorre,
entre uma e outra erupção
tempo

o breu jamais será negro o suficiente
o ermo jamais será desolado o bastante
para suspender a atração
o ar rarefeito alimenta a vertigem
do povo que ousa enamorar-se de um vulcão

a bravura lima as arestas da paisagem
a constância faz piruetas sobre as ruínas
o sangue, incandescente, abre diálogos no chão

Domingo
Quando por fim! a festa era só
Sono do soldado no sobrado + balir da cabra no telhado
Sol & vulcão erguem-se
com umbigos & crateras
com tatuagens & cicatrizes
Assim! paranóica abstracta na sua pedra de pintura
E lavra
O seu protesto E o seu retrato
Que vai! Que vem
Da velhice de nascença ao poente da infância…
E diz
o olho da cabra sobre o olho da terra
Como é belo o fogo! da flor da secura
Corsino Fortes
Domingo
Litografias para as festas de São Filipe,
Segundo Manuel Figueira e Luísa Queirós Figueira


Lavra Incandescente
Antónia Marques
outubro, 2021