48 anos depois de, num abril esperança, nos ter sido confiada a responsabilidade de fazermos crescer uma democracia robusta, sobre um solo impregnado de despojos de ditadura, eis-nos chegados ao XXIII Governo Constitucional, eleito por uma confrangedora minoria – 2.302.601, cerca de 21 % do total de Votantes Inscritos.
Efectivamente, parece existir uma directa relação, ou talvez, uma relação de perversa oportunidade, entre o aumento da abstenção e o brutal crescimento da selvajaria governativa. Certamente, não estaremos a extrapolar, se considerarmos o abusivo desempenho das elites governativas, que têm vindo a converter a política num negócio de família e a democracia num condomínio privado, parte essencial do problema, que subtrai significado à participação eleitoral.
Perante este desgraçado estado da república portuguesa, creio não ser despropositado afirmar que, aos eleitos interessa manter os eleitores afastados! Pois, é cada vez mais evidente que, a acentuação do distanciamento, contribui para viabilizar, com cada vez menos votos, as vitórias eleitorais minoritárias, convenientes às práticas abusivas das elites parasitas! A ilação aqui estabelecida é, infelizmente bastante simplória, não por ausência de disponibilidade para uma abordagem mais eloquente, mas, por se privilegiar a ligação fidedigna ao contexto em análise!
De facto, a eleição de governos representativos, nestes ruinosos termos, é algo que, a tempo, deveria ter feito soar os mais ruidosos alarmes, alertando para a urgência de acudir a Democracia! Lamentavelmente, como tal não sucedeu, o regime entrou num processo de degradação irreversível, nas suas entranhas apodrecidas as minorias inexpressivas continuam a provocar estragos, engendrando Governos absolutos, com poder para infernizar a vida das maiorias !
Um regime que despreza 5 395 581 dos 10 813 246 cidadãos (votantes inscritos) ainda reunirá condições para ser considerado Democracia Representativa?
Antónia Marques
maio 2022