O abusivo desempenho das elites privilegiadas, que retiram da política e da administração pública o sustento das suas famílias, em nada tem dignificado os desígnios da representatividade democrática.
Bem pelo contrário, pois, através da instrumentalização de uma série de expedientes manhosos, essas elites decadentes encontram no descarado tráfico de influências e no nepotismo primário, formas de eternizarem os apelidos familiares na titularidade dos cargos políticos. O recurso a essas práticas indecentes que, há décadas, sucede sem pudor, tem operado no sentido de descredibilizar a política e fragilizar a integridade da democracia.
No decurso das governanças de António Costa, o uso-farto e o abuso-sem escrúpulos, dessas práticas indecorosas, ter-se-á agravado, desencadeando mais um desgraçado ciclo de miséria moral que, em tudo, tem favorecido a supremacia das elites privilegiadas!
Efectivamente, a malograda actuação do primeiro ministro, para além de confirmar esse lastimável favorecimento, tem traduzido, também, a sua total indisponibilidade para respeitar o inédito apoio parlamentar que, durante seis anos, viabilizou as suas legislaturas. Ironicamente, esse quadro de excepcionalidade política, gerado em circunstâncias especiais para acudir o Estado de Emergência do país, acabou por fazer emergir as práticas abusivas, que sustentam o elitizado Estado, liderado por António Costa!
O compromisso parlamentar, que lamentavelmente não serviu para acudir o país, rapidamente se converteu em (mais uma) indecorosa oportunidade, para assegurar os abusos das elites privilegiadas. Desgraçadamente, o excepcional quadro político, terá servido, tão só, para agravar a degradação, que caracteriza a ação dos governos elitizados. Porém, reza a história, da vida democrática da república portuguesa, que por mais que essas governanças falhem no apoio à maioria dos cidadãos, as restritas minorias que beneficiam dos privilégios, nunca falham no apoio à eleição dos políticos, que lhes são mais favoráveis (1).
E, não terão falhado a António Costa, de facto, até premiaram o seu desempenho, entregando-lhe uma governança absoluta! A actual legislatura goza, assim, de condições ideais para dar continuidade à cruel ofensiva, que tem vindo a arrasar os valores de abril e a desprezar a Constituição da República Portuguesa.
Infelizmente, esta desgraçada operação abusiva serve-se do abandono cívico e da miséria moral, para incrementar o caos, que bloqueia a administração pública!
Antónia Marques
maio 2022
(1) À semelhança do que sucede com o grau de escolaridade, também o nível de rendimento económico é um factor que diversos modelos teóricos têm em conta no estudo da participação eleitoral (Brady, Verba, e Schlozman 1995; Anderson e Beramendi 2008). Do ponto de vista da qualidade da democracia, esta é uma avaliação particularmente importante: afinal, se cidadãos com rendimentos mais baixos participarem sistematicamente menos, as eleições podem conduzir a um aprofundamento das desigualdades, na medida em que os interesses dos eleitores com mais rendimen- tos tenderão a ser (ainda) mais privilegiados (Lijphart 1997). A revisão sistemática da literatura conduzida por Kaat Smets e Carolien van Ham (2013) revela que cerca de metade dos estudos que avaliam o impacto desta variável na participação eleitoral concluem que existe uma associação estatisticamente significativa entre dispor de rendimentos mais elevados e exercer o direito de votar.” ( Abstenção e participação eleitoral em Portugal: diagnóstico e hipóteses de reforma, João Cancela e Marta Vicente, 2018)
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