9 de março de 2023
dia da Humilhação Coletiva!
A história recente da relação, entre os professores e os seus representantes sindicais, está repleta de episódios profundamente desoladores e tragicamente lamentáveis!
Tempos houve, em que algumas organizações sindicais, por motivos diversos, terão resolvido perder os professores para ganhar outras coisas, que são de domínio público!
Porém, desta vez, os professores (e outros profissionais da educação) cientes das traições e dos negócios, outrora feitos em seu nome, mantiveram o foco e reforçaram a vigilância, em relação às posições, às estratégias e à conduta das organizações que os representam!
A pressão deu (alguns) frutos, a mesa única foi montada, as manifestações e protestos decorreram de forma desalinhada, foi sendo delineado um calendário de luta dinâmico, que atendeu à demanda do descontentamento de cada escola, de cada parceiro, de cada circunstância, de cada profissional diminuído.
Ao portão de algumas escolas, nos breves intervalos das miseráveis rotinas burocráticas, nas reuniões da escola que soçobra, ergueu-se o desespero, que fez mover um coletivo!
Surgiram ideias e ferramentas legais de luta!
Um sindicato juveníssimo à frente e outros mais idosos atrás, lá se foi fazendo caminho, entre disputas de palco e marchas a diversos ritmos, virámos do avesso a agenda dos tradicionais programas de protesto e caminhamos inúmeras vezes capital adentro!
Umas vezes em uníssono, outras a solo, gritamos palavras de ordem, vertemos sobre o espaço público as dores que temos na alma!
Fizemos greve, fechamos (algumas) escolas dias a fio, dormimos ao relento, gelamos em vigílias, tecemos cordões com panos e humanos, conversamos, decidimos, arriscámos, mobilizámos autocarros, alinhavámos discursos de circunstância, apelámos à opinião pública, ficamos indignados com as ausências, incrédulos assistimos à suspensão da democracia, com a determinação dos serviços mínimos, rapidamente convertidos em máximos abusos! Demos por nós em intermináveis conversas com guerreiros indisponíveis e, ainda assim, encetamos diálogos, percorremos quilómetros, estivemos à porta do ministério, mesmo quando o ministro faltou, fizemos barulho, demos nota do nosso descontentamento, denunciámos prepotências e desvarios de colégios arbitrais, de direções sem rumo e de associações de pais (a soldo de abusivas entidades patronais).
De permeio, as negociações, foram fazendo outro caminho!
O miserável ministro e o ex-sindicalista secretário de estado, absolutamente empossados, ditaram a agenda inflexível das sucessivas reuniões. Multiplicaram-se os power points e os ignóbeis textos digitados, cortados à fatia, uns e outros, foram servidos à mesa (única), acompanhados de um arsenal de baldes de água fria!
À saída destes (des)encontros, visivelmente agastados, os representantes sindicais proferiram discursos impossíveis, pois nada para além do tamanho das fatias e da qualidade da água fria, havia a partilhar!
As reuniões redondas foram palco mediático de sucessivas e severas humilhações!
A déspota maioria de Costa, com o apoio dos guerreiros indisponíveis, levou à cena, no n.º 140 da Av. 24 de julho, um deplorável espectáculo! À volta da famigerada mesa única, representados pelas organizações sindicais, estiveram sentados todos os profissionais da escola pública, porém, tal representatividade não teve qualquer peso ou importância! Desferindo sucessivos e rudes golpes, João Costa e António Leite humilharam cada um de nós, com as suas indecorosas propostas!
Aos contratados atribuíram a pena da precariedade eterna, os que reúnem condições para vincular, se ousarem concorrer, serão condenados a calcorrear Portugal de lés-a-lés, aos pré-aposentados distribuíram pastilhas elásticas e pirolitos, para os aspirantes à MI reservaram umas quantas pulseiras electrónicas e meia dúzia de precárias, para sortear entre aqueles que entretanto não tenham sido contemplados no sorteio das 24 casas identificadas em Lisboa e em Portimão (para dividir entre professores e profissionais da saúde), aos que exigem os 6.6.23 entregaram lápis e papel de almaço, para que possam continuar a somar os dias e as horas de viagem, entre agrupamentos, que jamais serão pagos!
Ora, aqui chegados, aos que lutaram têm de ser reconhecidos inúmeros méritos, nomeadamente o de ter tornado tudo isto possível! Pois, o protesto, em nome da dignidade profissional e da defesa da escola pública, ainda que de forma enviesada, deu frutos! De agora em diante, seguiremos em luta (?) muito mais reforçados e esclarecidos! A dignidade profissional, de quem (sempre) lutou, foi resgatada! E a escola, que defendemos, aprendeu a identificar os detratores e inimigos das causas públicas!
Humilhados, porém esclarecidos, temos razões de sobra para ampliar a indignação! Urge robustecer a luta, elevar o protesto, manter o foco e reforçar a vigilância, para evitar que o tenebroso anteprojeto de recrutamento e gestão se converta em letra de lei!
Urge exigir a demissão do ministro! Pois, caso tal não suceda, toda e qualquer negociação sobre outros temas, será considerada uma vil traição! Ninguém pode ficar para trás! O desterro prometido, a imobilidade eterna garantida, os horários compostos, não podem ser vendidos por meia-dúzia de fatias de bolo e vinte e três baldes de água fria!
Traição alguma será perdoada!
Ninguém pode ficar para trás!
A luta continua na escola e na rua?