Que escola pública é essa?
(d’après “Que força é essa”, Sérgio Godinho)
Vi-te a obedecer o dia inteiro
Construir projetos pr’os outros
Carregar matérias inúteis, desperdiçar
Muita sujeição p’ra pouco dinheiro
Vi-te a obedecer o dia inteiro
Muita humilhação p’ra pouco dinheiro
Que escola é essa? que escola é essa?
Que te faz baixar os braços?
Que só te serve para obedecer?
Que só te faz entorpecer?
Que escola é essa? Amigo
Que te põe a cuidar dos filhos dos outros
E a abandonar tua família e amigos?
Que escola é essa? Amigo
Não me digas que ainda não entendeste
Quando os dias se tornam impossíveis
Não me digas que nunca sentiste
Uma força a comprimir-te o peito
E uma raiva a esmagar-te o discernimento
Não me digas que não me compr’endes
Que escola é essa? que escola é essa?
Que te consome o dia inteiro?
Que só te serve para perder esperança, tempo e dinheiro?
Que só te manda embrutecer?
Que escola submissa é essa? Amigo
Que autocracia é essa que nos esmaga o sonho?
Que autoritarismo é esse que nos enrola em despachos mínimos?
Que força é essa que nos falta? Amigo
Que escola é essa?
Não me digas que exagero
Não me digas que não tens saudades da poesia
Não me digas que esqueces-te a madrugada do tal dia inicial, inteiro e limpo
Não me digas que preferes imergir, outra vez, na noite e no silêncio
Não me digas que és livre de habitar a substância de um tempo, quando te deixas aprisionar por decretos mínimos indecifráveis!
Que Força é essa? Amigo
Será suficiente para nos levantarmos do chão e, juntos, construirmos uma pedagógica Rebelião?