Arraiolos, 29 de junho de 2023
As inúmeras operações de rescaldo das celebrações oficiais do 10 de junho, este ano (2023) ilustradas pelas efusivas reivindicações de professores, deram lugar a uma série de disparates e intervenções desvairadas, motivadas pela urgência de anular a relevância dos protestos que, com originalidade e muita sapiência, confrontaram os abusos da maioria governativa!
Nesse histórico dia, contra todas as expectativas, para além dos convivas oficiais, o Peso da Régua foi palco de uma inaudita intervenção reivindicativa, sobre a qual ainda (muito) mais se há-de escrever!
Visivelmente agastado com a surpresa, o establishment reuniu esforços e, num ápice, urdiu e fez circular as instruções e as palavras-chave para atirar sobre a ousadia popular! De facto, entre muitas outras faculdades, os braços erguidos dos professores tiveram a graça de fazerem soar (praticamente) em uníssono o coro nacional de comentadores, subvencionados pelo Regime Mediático! Num tom irascível, em ritmo alucinado, os recitantes deram voz a uma cacofonia ultrajante, destinada a denegrir a sublevação reivindicativa dos professores, que abrilhantaram a festa da cidadania! Porém, as patéticas narrativas que atiraram ao ar num repente caíram por terra e a subordinada lábia, dos gaiatos do coro, tombou junto com elas!
Mas, como o establishment não se circunscreve à cena musical, eis que de permeio à cacofonia mediática, surgiram as coreografias da academia conformada aos ditames do Regime. Assim, dando provas de fidelidade institucional, meia-dúzia de cientistas, especializados em intersecções e artes mágicas, alinharam os chakras e, em nome dos valores régios, inclinaram-se vertiginosamente para o proibido sacrificando o Comité dos curandeiros!
Porém, a hiper-mobilização de recursos, a que a assistimos nos mais diversos sectores da vida pública, para silenciar a ilustrada voz dos professores, de pouco ou nada terá servido! Pois, a dignidade, veemência e determinação dos braços, que se ergueram no Peso da Régua, não cederam às coações nem aos cancelamentos, tão pouco se vergam por decreto!
A seguir, o relato de uma disparatada operação de rescaldo, urdida pelos cientistas especializados em proibições académicas!
PELO DIREITO À INDIGNAÇÃO
Boa tarde,
Antónia Marques, Professora, Artista e Mestre em Arte e Design para o Espaço Público, vem por este meio dar nota do seguinte:
À Comissão Organizadora da conferência COMbART
- Em nome da ética, deontologia e rigor científico, que devem pautar o V/ exercício, queiram fazer o favor de reconhecer, com decência, humildade e justiça académica, o percurso artístico e profissional de PEDRO BRITO, sempre que a ele, ou à sua obra, se dirigirem ou mencionarem. Caso tenham algum bloqueio, provocado por qualquer espécie de proibição, na utilização dos títulos de Mestre, Professor ou Artista, recomendo que recorram à menção O Cidadão Pedro Brito!
- Os professores, artistas, e demais profissionais intelectuais que estão na base da formação dos inúmeros intervenientes que colaboram nos Vossos Comités, exigem ver o seu trabalho e a sua dignidade profissional respeitados, tratados e referenciados com a devida deferência, motivo pelo qual, exigem que V/ Ex.as se retratem publicamente, pelos danos causados ao bom nome do colega PEDRO BRITO.
- A gravosa conduta, assumida por V/ Ex.as, na gestão deste insidioso processo de perseguição e exclusão da Obra e do Artista, transmite uma imagem sobranceira, avessa a qualquer rigor de análise científica, que fragiliza gravemente a já tão debilitada representação social da Academia. Urge rever a V/ conduta, envidando todos os esforços necessários à reabilitação dos valores que dizem reger a V/ ação. A liberdade de expressão e de decisão dos diferentes agentes envolvidos não deve ser uma prática pontual e discricionária, aplicada em benefício da resolução de problemas, provocados pela promíscua intersecção de subvenções, que sustentam a produção artística e científica de um restrito e alinhado grupo de curados e curadores
- Recomendo à V/ organização a leitura do artigo “ A desenhar também estamos a lutar”, de Pedro Brito, publicado no Santiago Magazine, por considerar que pode constituir um momento de aprendizagem relevante, quiçá possa dotar de maior rigor e o V/ discurso sobre O AUTOR e a OBRA, que estão no centro de um infame COMbART!
Lisboa, 14 de fevereiro de 2024
E, após nove meses de exótica gestação, surge na minha caixa de correio electrónico um e-mail da COMbART Conference 2022! Em resposta tardia, à mensagem enviada no recuado mês de fevereiro, veio por esta via a Organização da COMbART convidar-me para participar no fandango académico, vulgo certame, que terá lugar entre 3 e 5 de julho de 2024.
Ora, efetivamente a reboque da DEMISSÃO, reivindicada pelos cartazes cancelados, iniciou-se um avassalador ciclo de cenas exóticas que, em tudo, confirmam a razão dos protestos dos professores! Porém, ainda que a degradação da vida pública convoque cada um de nós para o empenhado exercício da intervenção cívica, a academia COMbART não se compraz e, alheada, soma fundos pecuniários e créditos, à custa das revoluções artísticas criadas por outros!
Lisboa, 21 fevereiro de 2024
Antónia Marques