conversar, de vagar, deambulando entre vocábulos
em vivo,
na primeira claridade, no lusco-fusco,
à luz da vela, ou sob o ruído chato de uma intermitente lâmpada fluorescente,
à roda da mesa, na sala dos fundos, à porta da rua, ou no meio da praça.
Se for de vontade partilhada, qualquer lugar é certo para abrigar uma troca de palavras.
não há requinte tecnológico, de comunicação à distância, capaz de destronar o encantamento do estar, conversar, com alguém, em algum lugar.
não há representação possível de um rosto, rubro de paixão pela voluptuosidade do argumento.
não há réplica capaz de traduzir o semblante sereno, imperturbável que toma conta da pessoa enamorada pela sonoridade da fala esperta.
não há como fazer sentir a gana, o vendaval que atordoa, que toma conta da voz e se projeta, com eloquência, na fala. É preciso estar, dedicar tempo, saborear, mergulhar na conversa até que falhe o ar!
não há como reproduzir a comoção que assola o corpo, assim que se vê emaranhado numa efusiva e participada conversa. Agitação brava essa, capaz de arrancar palavras que temos guardadas nos lugares mais improváveis.
talvez haja como registar a dança dos vocábulos mas, eu prescindo do registo, chegam-me as memórias, gosto de balançar o corpo enquanto desfio, com outros, umas quantas palavras!
vem, demora-te por aqui um pouco, vamos conversar!