
tó,
diminutivo afetivo,
destronou à nascença
o nome de baptismo
[estimada herança de família]
Antónia era palavra demasiado adulta
para ser nome de miúda.
tó,
dizia Joaquim, o Pai
ora com uma firmeza avassaladora
ora com uma candura derretida,
a miúda, do Pai
habituou-se a ser anunciada de forma emotiva
preciosas tatuagens sensoriais,
conservo no âmago da minha personalidade
gravadas pelo timbre inconfundível da tua voz,
sempre que pronunciavas o meu nome de miúda
sorte imensa, generosa fortuna
crescer amparada por tão grandiloquente criatura.
amo de paixão o colo que o retrato preserva.
saudade brava
do calor dos teus afetos
do carinho delicado que guardavas nas tuas mãos robustas,
do teu jeito discreto, parceiro e amigo,
da tua nobilíssima presença.
faltam-me os nossos passeios e venturas,
de mão grudada à tua fui a todo o lugar,
apreciei o cuidado meticuloso que dedicavas aos problemas alheios,
observei, com orgulho, a estima genuína que te dedicavam os amigos,
aprendi a menosprezar a crueldade com que os seres mesquinhos te observavam,
jamais compreenderam que o peso que carregavas era já pena suficiente e, por isso mesmo, não necessitava de ser sublinhado,
caminhar a teu lado foi sempre motivo de sincera vaidade,
com a tua caligrafia adorável escreveste sobre a minha pele os mais nobres fundamentos.
saudade danada
dos nossos sábados e de todos os outros dias,
da tua atenção redobrada,
da tua paciência inesgotável,
dos encontros largos e demorados,
da virtude de encontrares sempre espaço para albergar mais um amigo.
gosto de apreciar o desenho da minha personalidade,
encontro nesses momentos o privilégio de voltar a estar contigo!
Tó,
a menina do pai