
Ilha projeto artístico que vai de lugar em lugar e se estende em terra plana, árida, talhada pela quentura do sol.
Cruzando lugares, combinando geografias, apreciando o sol e o calor ardente que anima e faz bulir, devagarinho, os pés!
Navegando entre grafias e tratados, da terra a arte brotará, em forma de ilha, ínsula ou ipuã.
Na mala de pano estrangeiro, as ferramentas e os materiais [7 agosto 2017]
Tenho comigo os lápis, trouxe o azul esmeralda, o verde água, os ocres, os amarelos e também os vermelhos.
Tenho a caneta preta fina, o pincel largo, os lápis 4,5 e 6 B, a borracha e os marcadores de feltro.
Tenho comigo os papéis mais finos e delicados, tenho também os mais grossos, porosos, os de aguarela e os de registo.
Numa mala pequena tenho as fitas, as colas, as molas e os fios, tesoura e outras ferramentas de corte, réguas e pano mal cozido.
Numa caixa de madeira emprestada guardei as ilhas, irregulares pedaços de papel, sobre as quais desconheço o destino.
Da estante trouxe três livros, um de Saramago e dois do Germano.
Organizado, dobrado, combinado, está tudo bem guardado, numa mala que trago sempre comigo, linda, de cartão, forrada com pano estrangeiro.
Tenho comigo o que me faz falta,
na mala de pano estrangeiro guardo os materiais,
em mim conservo tudo o resto.
Tenho os sons, as cores, os cheiros,
tenho os rostos, os traços, os jeitos
trouxe tudo das ilhas,
onde habitei por um bocado.
De Santiago veio a gente, o azul, o milho e a enxada
Santiago ilha do Atlântico, combina com Alentejo,
partilham a água do mesmo mar,
partilham a exaustão provocada pelo mesmo sol,
partilham a sede, a música como intervenção e a falta de cereais para o pão.
Nas planícies douradas do Alentejo há espaço para desenhar na paisagem a gente que habita a ilha de Santiago.
Neste deserto alentejano faltam todos os que abalaram.
Falta o azul uniforme, que desfila no corpo das crianças, muitas meninas e meninos alinhados na beira da estrada, da Praia até Assomada, por onde fazem caminho até à escola,
falta gente nesta paisagem alentejana.
Cante alentejano combina com batuco cabo-verdiano,
na génese a mesma força, aquela arrancada às profundezas da alma
que se traduz numa inexplicável vontade de existir e colectivamente intervir.
Alentejo terra difícil, despida, esventrada, deserta, cruelmente esquecida e abandonada.
No teu solo dourado, com uma enxada de ferro, serão depositadas as sementes do milho, outrora esperança de Santiago.
Da terra dourada virá tudo o resto
No dia 8 de agosto, na planície dourada do Baixo Alentejo se fará caminho para cruzar etapas de uma eterna viagem!


